Portanto, alguns eram bons, alguns eram maus, a sua personalidade era individual e bastante divergente. Tem-se essa imagem distorcida dos titãs porque Cronos foi o mais famoso, por ter devorado seus filhos. Os outros nada têm a ver com isso, embora alguns tenham ficado a favor dele e outros contra, na Titanomaquia. Que fique claro também algo sobre Erebus. Ele não era um titã, era uma deidade ainda mais primitiva, filho do Caos, e foi apenas na Titanomaquia que Erebus ficou ao lado dos titãs assim como Nyx ficou ao lado dos deuses, junto a outros titãs que eram opostos a Cronos. Prometeu, Epimeteu e Atlas eram titãs irmãos. Como ficaram ao lado dos deuses, eles foram poupados e, assim que o mundo foi reorganizado sob as ordens de Zeus, esses titãs em liberdade tomaram seus lugares e suas funções, para ajudar ao equilíbrio do mundo.
Esse foi o caso de Prometeu e Epimeteu. Atlas, o outro irmão, foi condenado por Zeus, pois se opôs contra o deus dos deuses. O seu grande castigo foi carregar o mundo nas costas e o céu em seus ombros. Céu este que, após Urano morto, seria onde o Dia e a Noite sempre se cruzam, mas nunca ao mesmo tempo. Já Prometeu e Epimeteu têm sua história especial, diferente.
Claro que, após a Titanomaquia, os deuses gregos não conseguiram reinar com paz. Houveram várias tentativas, por parte de outras criaturas, de tomar o poder; como a história do grande Tífon conta, como a história de Hércules também, mas isso não nos vem ao caso agora. É importante agora saber que, depois que todos os monstros foram derrotados, estes todos – criaturas horríveis e adversas – foram enviados para o reino de Hades, aonde pertencem até os dias atuais. Hades criou-os como suas criaturas, seus servos, outros foram apenas impelidos ao castigo eterno. Assim, a terra ficou livre para que a humanidade brotasse.
A Terra, segundo os deuses, não era redonda – este conceito foi construído muitos mil anos depois – era plana, como um disco redondo que é dividido ao meio pelo mar Mediterrâneo e pelo mar Negro. Em sua volta, cobre o rio Oceano, este é um titã aliás. Do outro lado do Oceano, viviam os Simérios que, segundo os gregos, eram um povo que vivia em sombra eterna, tristes e melancólicos, sem nunca terem conhecido a luz do dia, e de natureza desconhecida aos gregos. Também viviam os Hiperbóreos, um povo oposto aos simérios, pois eram felizes e dançantes, não conheciam a morte, apenas a beleza e a eternidade. Além desses lugares, havia os campos Elíseos, onde os mortos bem aventurados ficavam, domínio de Hades aqui já retratado. Enfim, depois de toda a criação, faltava ainda a humanidade!
Prometeu significa “aquele que enxerga antes”, “premedição”, “aquele que prevê”. Epimeteu é aquele que enxerga depois. Eram de personalidades diferentes. A ele, por Zeus, foi incubida a missão de criar os animais e os humanos, dando dons a eles para que eles pudessem conviver na terra e sobreviver. A primeira geração de homens criadas pelos deuses foi a geração de ouro, uma raça de homens próspera, que eram felizes e unidos à natureza, respeitavam os deuses e não existia tristeza entre eles, apenas o amor e a vida. Essa comunidade era constituída apenas por homens, é importante citar que não existiam mulheres na época... No entanto foi destruída em várias lutas feitas pelos próprios deuses, que acabaram extinguindo os humanos. Foi criada então a geração de Prata. Epimeteu, que tinha o dever de dar os dons aos animais e aos humanos, foi impulsivo, como sempre, e presenteou os animais com todos os dons possíveis, não restando nada para os humanos. Os pássaros voavam, os peixes enxergavam e respiravam na água, os camaleões camuflavam, as cobras eram peçonhentas, os carnívoros tinham garras e presas... E os humanos? Como sempre, Epimeteu “viu depois” o que tinha feito e arrependeu-se, indo buscar ajuda ao seu irmão.
Essa geração de Prata dos humanos era frágil e primitiva, viviam em cavernas, comendo carne crua, caçando animais com lanças feitas de pedras e caminhavam curvados. Morriam no frio, pois eram pelados – não possuíam pelos para se aquecer – e eram fracos em músculo e devagar em agilidade perante outros carnívoros. Prometeu, pensando em como ajudar esses frágeis homens, roubou o fogo do Olimpo, acendendo uma tocha com este e trazendo esse fogo para os humanos. O seu plano deu certo, obviamente, Prometeu era o sábio, pensava antes de agir, via suas consequências antes de planejar. Mas, os homens reagiram ao contrário do que ele imaginava. Eles foram capazes de assar a carne e torna-la mais fácil de comer, foram capazes de açoitar predadores, de se aquecer no frio, de fazer roupas com as peles dos animais, foram capazes de iluminar a noite e enxergar nas cavernas onde moravam. No entanto, por terem esse domínio nas mãos, o domínio do fogo, os humanos passaram a desdenhar dos deuses.
Zeus, que se sentiu roubado pelo furto de Prometeu, roubou o fogo dos humanos e, engolidos pelas trevas e pela incapacidade, a geração de Prata pereceu. Então, foi-se criada a geração de bronze. Esses homens de bronze eram terríveis, intolerantes, raivosos, com um instinto destrutivo e para quem Prometeu roubou o fogo dos deuses pela segunda vez, entregando a eles, para que eles sobrevivessem. Com o fogo, os homens de bronze forjaram armas e escudos de bronze, fizeram roupas e arte mais aprimorada. Aos poucos, além de serem mesquinhos, violentos e destruitivos, passaram a desdenhar dos deuses. Afinal, para quê precisavam dos deuses, se eles conseguiam sustentar-se sozinho? Furioso, Zeus quis se vingar. Primeiro dos homens, depois de Prometeu. Sua vingança foi lenta e ele foi paciente. É neste momento da história que entra Pandora.
Pandora foi a primeira mulher da humanidade, criada por Zeus como “presente” aos homens. Ela foi esculpida por Hefesto, o deus forjador, fabricador de esculturas perfeitas para os deuses. Depois, cada deusa presente deu seu dom especial para Pandora: Afrodite deu a beleza, Atenas deu a sabedoria, Hera e Héstia deram a habilidade de cuidar do casamento, da família e dos filhos, Artemis deu o dom da caça e da comunicação com os animais, Têmis deu o dom da justiça, Deméter deu o dom da agricultura e assim por diante. Quando Pandora esteve perfeita, foi mandada à terra por Hermes, o mensageiro dos deuses. Prometeu, aquele que prevê tudo, viu quais eram as intenções de Zeus e preveniu a seu irmão Epimeteu sobre Pandora. Epimeteu, impulsivo como sempre, apaixonou-se pela
mulher e não deu ouvidos ao titã irmão. Casou-se com ela e teve uma filha, chamada Pirra. Prometeu, mais tarde, tem um filho chamado Deucalião. Pandora foi deixada na terra com uma ânfora em sua mão, a qual Prometeu lacrou antes que fosse aberta.
O titã fez Pandora prometer que nunca abriria aquela ânfora, pois era um presente de Zeus e não se devia confiar. Enquanto isso, a “mulher maravilha” da humanidade ajudava os homens de bronze a se tornarem menos ignorantes; ensinou-lhes sobre justiça, humanidade, agricultura, arte, aos poucos tornando a sociedade cada vez mais independente e próspera. Ela, no entanto, continuava esnobando os deuses, que não estavam nada felizes. Pandora, no entanto, tinha uma qualidade que poderia tornar-se defeito em pouco tempo: sua curiosidade e vontade de sempre saber mais. Quebrou sua promessa e assim, abriu a ânfora lacrada. De dentro dela, todos os males da humanidade saíram, como essências do mal, possuindo os corações dos homens que, mesmo com todos aqueles conhecimentos, continuavam frágeis e sucessíveis ao fracasso. Dessa forma, Pandora viu o mais honesto se tornar avarento, o mais piedoso se tornar o mestre das torturas e da intolerância. Quando a
humanidade estava se destruindo novamente, Zeus entrou em ação.
Prometeu, que tudo prevê, avisou ao seu filho Deucalião sobre a catástrofe e destruição total que viria. Deucalião, que havia casado com Pirra (sua prima) pediu ajuda à esposa e teve ajuda do titã seu pai para montar uma grande arca! Eles tentaram avisar aos humanos sobre a fúria do deus dos deuses, mas os homens soberbos não quiseram dar ouvidos. Então, os netos de Prometeu, filhos de Pirra e Deucalião pediram aos pássaros que avisassem aos outros animais. Em pouco tempo, um par de cada animal estava entrando na grande arca junto a eles. Logo depois, Zeus inundou todo o mundo, cobrindo até mesmo as montanhas altas, tudo. Pandora, assim como os outros mortais, pararam no reino de Hades, após o dilúvio. Os únicos que sobreviveram foram Pirra, Deucalião e seus filhos, junto aos animais e plantas que coletaram e protegeram dentro da grande arca. Após 10 dias e 10 noites, Deucalião percebeu que haviam atracado em uma terra. Era o alto do monte Parnaso. Lá, desceram da arca e libertaram os animais. Construíram um tempo para Zeus, feito de barro.
Deucalião e Pirra haviam sido criados por Prometeu e Pandora, portanto, eram virtuosos, de bons corações que veneravam os deuses e haviam criado assim seus filhos. Após criar o templo de Zeus naquela ilha deserta, eles clamaram a sua solidão, por serem os únicos de sua espécie. Zeus, comovido, mandou então Têmis deusa da justiça para dar-lhes um presente. Têmis disse que eles cobrissem seus olhos e lançassem por cima dos ombros os ossos de sua mãe. Após compreender que esta mãe era Gaia, a Terra, os filhos dos titãs jogaram pedras por cima dos ombros e dessas pedras, surgiram os demais homens e mulheres, gerando a idade da pedra, ou idade dos heróis. Neste tempo, vários heróis surgiram como Aquiles, Hércules, Perseu, Teseu etc. Depois que todos estes cumpriram sua honra e morreram como heróis, restou apenas o povo grego. O povo grego surgiu então, e seguia duas premissas para a sobrevivência: excelência e honra.
Prometeu teve seu castigo. Foi aprisionado no alto do monte Cáucaso, por onde passaria a eternidade sofrendo, sem poder comer, dormir ou viver. No entanto, seu castigo ainda piorou, quando Zeus descobriu através do Oráculo que um de seus filhos iria destrona-lo. Como sabia que Prometeu era o único que saberia quem seria a mãe desse garoto, mandou Hermes falar com Prometeu e interroga-lo. O titã no entanto negou-se a se submeter aos caprichos de Zeus através daquela violência e nada contou. Zeus condenou-o a permanecer no Cáucaso e mais, uma grande águia – a mesma que havia o arrastado para o alto do monte – comeria-lhe o fígado todo o dia. Este se regeneraria durante a noite, para ser devorado pela águia no dia seguinte, assim pela eternidade já que o titã era imortal. Quanto a Pandora, ela parou no Submundo após o dilúvio, cometendo suicídio aos 34 anos. Hades apiedou-se dela – como raras vezes tem feito em suas histórias – e transformou-a em uma deusa. Portanto, Pandora é a deusa da humanidade, das virtudes, que vive no Submundo junto a Hades, Persérfone dentre outros.
REFERÊNCIAS:
- RODRIGUES S. A caixa de Pandora - Coleção Reconstruir. Belo Horizonte:
- Formato Editorial, 2004.
- HAMILTON E. Mitologia. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
- BULFINCH T. O livro de ouro da mitologia - histórias de deuses e heróis. Rio de
- Janeiro: Ediouro, 2010.
- Site Espiritualismo. Acesso em: 2012. Disponível em: <http://www.espiritualismo.hostmach.com.br >
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